Chapecó – Os portões pareciam rampas entre o muro e o chão. Os vidros estilhaçados e as cadeiras verdes jogadas e tortas já indicavam que algo tinha acontecido naquele local. O quadro azul na parede cheio de desenhos, as bonecas e carrinhos distribuídos por toda a sala e os cadernos debaixo dos pneus apontavam que aquele ambiente era frequentado por crianças.
Era uma terça-feira por volta das 16h30 quando um homem de 53 anos, com uma Montana preta, perdeu o controle do carro e invadiu uma creche. Vinte e quatro crianças acompanhadas por uma professora estavam no Centro de Educação Infantil Municipal Pequenos Heróis, no bairro Efapi em Chapecó. Seis alunos, entre quatro e seis anos, tiveram ferimentos leves e outros dois foram internados em estado grave no Hospital Regional do Oeste (HRO).
Embriagado, o motorista foi preso em flagrante. Este é um exemplo entre os casos de acidentes que ocorreram por imprudência. Em 2015 o Ministério da Saúde (MS) registrou 38.651 mortes, já em 2016 foram registradas 34.850 mortes. Mesmo que este índice tenha reduzido de um ano para o outro, entre 2015 e 2016, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil ainda é o quinto país com o trânsito mais violento do mundo. Cerca de 105 pessoas morrem por dia e anualmente totaliza em média 38 mil mortes causadas por acidentes de trânsito. No ano passado, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), 38.800 motoristas foram flagrados dirigindo embriagado.
Joelma de Paula, a professora que estava na sala com as crianças no dia do acidente, contou que teve alguns ferimentos leves e uma luxação. Entretanto, neste caso, o susto deixou rastros maiores. Ela ainda explicou o quão necessário foi a participação da comunidade para orientar as crianças, que estavam com medo de voltar para a creche. As pessoas recebem orientações, estão cansadas de saber que álcool e volante não são combinações boas, concluiu.
A professora tem razão, assumir a direção do veículo após consumir bebida alcoólica não é o ideal, tanto que é considerado um crime de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, mas que deve ser analisado não devido as punições financeiras, e sim da perspectiva de que a embriaguez é um risco de vida para o motorista e, principalmente para a população que está vulnerável aos atos imprudentes. De acordo com as pesquisas do médico psiquiatra Dr. Danilo Antônio Baltieri, o álcool é responsável por problemas psíquicos e altera o comportamento dos consumidores. A mais frequente é a intoxicação alcoólica, ou seja, é o transtorno mental que ocorre por consequência da embriaguez, ocorre durante e após o consumo de álcool. Segundo o estudo, a fala arrastada, falta de atenção, falta de coordenação motora, movimento anormal dos olhos e a instabilidade nos movimentos da perna ao caminhar são sintomas da intoxicação.
Ainda um artigo publicado pelo Dr. Drauzio Varella, ressalta que o efeito de uma cerveja consumida por uma mulher equivale ao de duas consumidas por um homem. Portanto, há a necessidade de controlar a quantidade de bebidas alcoólicas consumidas para não ter grandes consequências físicas e principalmente psíquicas, o cuidado deve ser dobrado para as mulheres quando o assunto é garantir a sua própria saúde, já que o organismo do homem e o da mulher reagem de formas diferentes as substâncias químicas. Além disso, ter a consciência que para o bem coletivo após o consumo de bebida alcoólica é proibido dirigir.
O mandato do vereador Cleiton Fossá conversou com 10 crianças entre sete a 10 anos, cinco crianças relataram que os pais já orientaram que é proibido consumir bebida alcoólica e em seguida dirigir. Entretanto, as crianças também frisaram que em algum momento os seus responsáveis descumpriram as próprias orientações. Três crianças disseram que nunca viram o pai ou a mãe dirigir sob efeito de álcool. Uma criança relatou que só recebeu estas informações sobre o trânsito na escola e que ainda não debateu o assunto com a família.
Já a Ana Clara, de 10 anos, frisou que já estudou sobre drogas lícitas e ilícitas, já recebeu orientações dos pais e o seu pai tentou dirigir após beber na casa de alguns amigos da família. Ele bebeu pouco naquele dia, mas quando ele foi em direção a porta do motorista falei pra ele pai, você não pode dirigir. Deixa que hoje a mãe dirige. Não sei se ele me testou ou se realmente tinha esquecido, mas não tivemos problemas, a mãe pegou a chave do carro e foi dirigindo até em casa.
Nem todas as pessoas escutam as crianças, como fizeram os pais de Ana Clara. Inclusive, de acordo com Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), 90% dos acidentes são causados por falha humana, falta de responsabilidade para com a população no trânsito. Então as punições foram criadas justamente para os motoristas que não se esforçam para conviver em sociedade. A legislação penalizava com detenção entre seis meses a dois anos para quem dirigisse alcoolizado. A nova Lei 13.546 altera dispositivos da Lei 9.503. A nova regra aumenta a pena para os condutores que causarem lesão corporal grave e gravíssima, ou ainda provocarem homicídio sob efeito de qualquer substância psicoativa. O motorista será punido com reclusão de dois a cinco anos.
As punições mais rigorosas apenas contribuem, mas não dão fim a prática delituosa. Além da pena, a educação de forma permanente é fundamental para um trânsito mais humano. As pessoas precisam se reeducar e chamar atenção de todos os condutores que dirigem após consumir o álcool, essas ações estão além de uma punição, elas causam riscos tanto para a vida do motorista quanto para nossas crianças, familiares, amigos, ou seja, a sociedade no contexto geral, ressalta Cleiton Fossá.
Alessandra Favretto, Assessoria de Comunicação Cleiton Fossá