Postado em 06 de Abril de 2020 às 09h52

De frente com o especialista: um bate papo com o professor e pesquisador Dr. Daniel Albeny Simões sobre o COVID-19

Cleiton Fossá        O primeiro caso pelo novo Coronavírus, foi identificado em Wuhan, na China, no dia 31 de dezembro de 2019. Desde então, a situação preocupante da transmissão do...

       O primeiro caso pelo novo Coronavírus, foi identificado em Wuhan, na China, no dia 31 de dezembro de 2019. Desde então, a situação preocupante da transmissão do vírus atinge países de todo mundo. Decretado pandemia pela Organização Mundial da Saúde, a situação, até o momento é de 1.159.515 pessoas infectadas, 67 mil mortes, e mais de 200 mil pessoas curadas. No Brasil a situação também é grave, são 11.133 casos confirmados do novo Coronavírus, com 486 mortes. Em Chapecó, são seis casos confirmados e dois pacientes recuperados.

Com o passar do tempo, e com a proliferação aumentando a cada dia, diferentes medidas são tomadas por governantes para parar a transmissão. Em meio ao caos de uma crise da saúde, econômica e social, as pessoas encontram-se perdidas, orientadas por diferentes frentes. Coronavírus é uma palavra que não saí dos assuntos mais comentados das redes e do dia a dia de quem está em isolamento social.

       Em vista dessa situação, entrevistamos o Graduado em Ciências Biológicas, Especialista em Saúde Pública e Meio Ambiente, Mestre em Biologia Animal e Doutor em Entomologia, Daniel Albeny Simões, que mora em Chapecó, para esclarecer alguns pontos e sanar dúvidas recorrentes que são naturais frente à situação.


Porque essa nomenclatura COVID-19, tem razão científica?

O Covid-19, na realidade, é o nome da doença, que vem do inglês “Coronavirus disease” e 19 é o ano onde foi identificado essa linhagem do vírus. 2019 na China, doença do Coronavírus. Embora a literatura apresente artigos de 2007 que já indicavam e associavam a prática de consumo de carne de animais silvestres, ao risco de infecção comoCoronavírus, só que não foi dada importância naquela época. A nomenclatura indica a doença, o “coronavirus disease”, doença causada pelo Coronavírus, o vírus é o agente causador da doença, o vírus é o Coronavírus e a Covid-19 é a doença que o vírus causa. A pessoa que está doente está sofrendo da Covid-19. São duas coisas diferentes.


Como o Coronavírus funciona?

Qualquer vírus funciona da mesma forma, o vírus é uma fita de RNA, envolto em uma membrana de lipídio e ele precisa obrigatoriamente de um maquinário celular, um hospedeiro, seja um inseto, um animal, ou até mesmo um ser humano. Ele precisa desse maquinário celular para conseguir se multiplicar. O Coronavírus é isso, infecta células humanas e utiliza o maquinário celular para se reproduzir. Nesse processo pode causar a doença Covid-19. O Coronavírus é um vírus que entra pela via respiratória, geralmente, nariz e garganta, infecta as células dessa via e desce pelo trato respiratório. Quando ele alcança os pulmões ele começa a colonizar as células pulmonares, a pessoa pode perder, por conta da infecção causada pelo vírus, a capacidade de realizar trocas gasosas, tendo em vista, que são as células pulmonares responsáveis por auxiliar nas trocas gasosas dentro do pulmão. Uma troca gasosa sanguínea. Quando a pessoa perde a capacidade de respirar porque as células estão infectadas pelo vírus é necessário de respirador, um aparelho que utiliza para conseguir passar pelo período de infeção, mesmo não tendo essa capacidade respiratória. Se ele não tem o respirador, provavelmente ele morre.

Você acredita que o brasil tomou providências necessárias para prevenir contra o Coronavírus?

O Brasil tem tomado todas as recomendações necessárias que são recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, que é neste primeiro momento, em que o vírus está se estabelecendo e espalhando pelo país, a população precisa ficar em casa fazer esse afastamento, não isolamento, a palavra certa é afastamento ou distanciamento social, para que você não tenha muitas pessoas infectadas. É preciso lembrar que é um vírus que ele passa pelo contato direto. A pessoa se infecta com algum fluido corporal, pode ser um perdigoto, que a pessoa falou e liberou na saliva, um espirro, uma tosse, geralmente se acumula nas mãos e a pessoa leva a mão a boca, olho ou nariz e a pessoa se infecta. É um vírus que uma das grandes características é a taxa de infecção muito elevada, as pessoas se infectam muito mais fácil com o Coronavírus que uma gripe normal.

O que o Brasil está fazendo hoje, e obviamente é uma questão política social, é uma a tentativa de fazer a remoção social ao máximo das pessoas das ruas, para que não sobrecarregue o sistema de saúde. Se você tem várias pessoas infectadas ao mesmo tempo, você pode ter várias pessoas que vão passar ou precisar de um atendimento urgente. De acordo com um artigo publicado por um grupo chinês há quase 10 dias atrás, na renomada revista Science, 86% da população é assintomática, ou seja, não apresenta nenhum sintoma aparente. A pessoa assintomática é mais perigosa para a proliferação do que a pessoa que tem o sintoma. Ele não sabe que tá infectado e vai passar para alguém. A probabilidade dessas pessoas passarem isso sem saber e chegar nos grupos de risco é muito grande, por isso, o afastamento social.

Estamos no escuro, em relação ao número exato de casos confirmados de Coronavírus?

Olha, no escuro eu não sei, mas todos os casos que chegam até o centro de tratamento e hospitais, são notificados e testados. Mas, nenhum país no mundo tem condição de testar 100% da população. Obviamente, não é um problema do Brasil, existe uma subnotificação, igual existe para outras doenças, como a dengue. Nós temos que nos preocupar muito com o Coronavírus, mas não podemos deixar de nos preocupar com as outras doenças. Só esse ano, de acordo com o Ministério da Saúde, estamos no mês quatro e já são mais de 300 mil casos confirmados de dengue no Brasil, contra 9 ou 10 mil de Coronavírus. A subnotificação existe, seria muito ideal se tivéssemos condição de testar a população inteira, mas isso nunca vai acontecer, então, existe a subnotificação e com certeza os dados são confiados parcialmente pela subnotificação.

O nosso clima interfere nos casos do Coronavírus? Quais características do Brasil podem ser favoráveis ou prejudiciais para essa doença?

Como o vírus é muito novo, os estudos sobre a biologia sobre esse vírus é ainda muito incipiente. Se o clima interfere ou não, eu não sei, mas o Brasil está entrando em uma fase crítica, estamos entrando no outono e daqui a pouco no inverno, e nos dois períodos nós temos muitas doenças respiratórias. Todas as gripes comuns, Influenza, a H1N1, tudo isso acontecendo nesse período. Querendo ou não chegando o inverno é um agravante para o Brasil. Se o clima de Chapecó, especificamente, corrobora, dificulta ou melhora, não sei te falar, e duvido se alguém saberá.

O vírus pode se tornar sazonal?

Qualquer vírus que entre em circulação na população humana, é sazonal de alguma forma. O que vai determinar a sazonalidade e a taxa de infecção é a quantidade de pessoas que passaram pelo processo de infecção e que desenvolvem anticorpos para combater esse vírus, ou o estabelecimento de uma vacina, porque a vacina nada mais do que a injeção de vírus atenuada que faz com o corpo produza anticorpos, essa é a grande questão. A sazonalidade é comum para vírus, para qualquer tipo de vírus.


Noticiários e muitos pessoas acreditam que o momento serve para que as pessoas voltem a acreditar na ciência, você concorda com isso?

A pior descrença que qualquer país civilizado pode ter no mundo, é em relação à ciência, aos cientistas e as pessoas que dedicam a vida a estudar coisas que melhoram a condição humana. O brasil perde muito quando tem um discurso de ódio contra os cientistas, ele entra em universo onde se vangloria o ridículo e se banaliza o intelectual. Entramos em uma fase brasileira de banalização da ciência, das universidades, professores universitários e de pessoas que importam e fazem a diferença no Brasil, em prol do povo brasileiro. Me dói muito falar dessa questão porque, realmente como cientista a gente sente na pele, porque somos pessoas que passamos por processos de graduação, mestrado, doutorado, pós doutorado, no Brasil e no exterior e temos conversas afinadas com cientistas do mundo inteiro, e as pessoas simplesmente acham que a ciência não é importante. As pessoas no Brasil, de uns tempos pra cá, começaram a acreditar na própria verdade, só que precisam entender que a verdade delas não tem dados científicos nem matemáticos.

Com certeza se isso aí não é motivo suficiente para as pessoas botarem a mão na consciência e acreditarem na ciência, entregarem a verdade absoluta à ciência, porque a ciência é a única coisa que salva, se esse não é o momento, não sei quando será. Estamos passando por uma pandemia mundial, e as únicas pessoas que podem salvar o mundo, o Brasil a cidade de Chapecó e dentro da sua casa, é a ciência.

A ciência vai desenvolver vacina, remédio, só que não consegue fazer da noite pro dia. Principalmente a ciência brasileira, sucateada no atual governo, massacrada e colocada na pior condição possível. É preciso ser revisto. Dados internacionais dizem que qualquer país desenvolvido, só ganha dinheiro e entra na condição de desenvolvimento se ele produz tecnologia. Cada dólar investido em ciência, volta daqui a cinco anos, em cinco dólares na economia do país. Nós acreditamos, que isso tudo é banal, que não vale a pena. O país perde, perde as pessoas. Mais do que nunca é preciso confiar na ciência, voltar investimentos e acreditar nas pessoas que podem resolver o problema.

Por que é tão difícil criar um medicamento?

A criação do medicamento não é difícil, na realidade, o que acontece é que qualquer medicamento para teste em seres humanos só é liberado pelos órgãos regulamentadores se você tem certeza 100% de que aquilo vai matar uma pessoa. Então, um prazo de um ano não pode ser considerado longo. Porque ninguém vai ser inconsequente a nível mundial, o suficiente para liberar um medicamento que não está testado previamente no ser humano. Não existe um tempo muito grande. Existe um tempo mínimo necessário, só isso.


Qual a sua perspectiva de números de casos para o Brasil e Chapecó do Coronavírus?

A perspectiva só funciona se você está seguindo a receita de bolo. Hoje nós temos quase 200 países no mundo em processo de distanciamento social, se nós entendermos, em termos de Brasil, decidirmos que distanciamento social não é importante, ou que pode ser afastamento vertical, nós vamos com certeza lidar com a situação do vírus e com a situação das infecções. Não é opinião, é dado matemático: você fica em casa e diminuiu a curva de infeção e obviamente em decorrência disso vai ter diversos problemas econômicos. Ou você não fica em casa, resolve problemas econômicos, deixa a curva de infecção subir e vai lidar com isso lá na frente. O que tem que ficar lá na frente é que 2 e 2 são quatro, da mesma forma, como vou chegar nesse quadro, será parcelado, ou vou somar os dois e dois.

O que quero dizer é que os problemas econômicos serão piores se não fizermos o afastamento social. Podemos correr o risco de colapsar todo um sistema de saúde e também um sistema financeiro, se tivermos pessoas doentes e que por consequência não podem trabalhar. Isso tudo poderá acontecer caso o governo e a população decidam afrouxar as medidas de afastamento social.

 

 

Assessoria de Comunicação Vereador Cleiton Fossá
 

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